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Os Célticos da Lusitânia

Os Célticos, povo de características étnicas Ibero-celtas, encravados já antes do século IV a.C. nos territórios meridionais da Lusitânia, então sob o nome de Federação Céltica, hoje terras incorporadas na região portuguesa do Alentejo (província do Alto-Alentejo) e parte da do Ribatejo, mas que no passado foram não só aliados como também uma nação integrante da Confederação dos Povos Lusitanos, chegaram a conquistar e a absorver o Reino dos Cónios, povo aliado de Roma, terras hoje no Algarve e Baixo-Alentejo, assim como na zona fronteiriça ocidental da província de Badajoz e norte da província de Huelva, que na altura teriam estado sob influência do antigo Reino de Tartesos, mas que hoje está sob domínio espanhol.

Os antigos Célticos e os seus descendentes directos os actuais celtas ou (alto) alentejanos do Alentejo, que sob domínio português e uma superficial e tardia influência semita desenvolveram uma identidade regional e cultural distinta da outras regiões de Portugal, são um produto multicultural em que intervém uma série de componentes étnicos originários da Meseta norte da Ibéria juntamente com outros elementos provenientes de zonas meridionais peninsulares sob forte influência de fenícios e púnicos, da zona oriental de influência dos turdetanos e oretanos, do ocidente atlântico de influência dos saefes e turdulos, que juntamente com a forte influência celtibérica e vetona amalgaram num conjunto étnico cultural distinto dos outros celtas ibéricos mas de forte personalidade própria como é costume registar-se nas culturas mestiças.

Destacamos hoje as suas singulares cerâmicas, que sugerem gostos metálicos para estes recipientes, não só pelos tons escuros que apresentam, próprios da cocção redutora, e também por seus acabamentos em que se utilizam técnicas de polir ou grafitado. A heterogénica decoração que oferecem, principalmente motivos geométricos em relevo (estampilhado, impressão, incisões, excisões, etc), dão conta de variados padrões culturais de referência, como por exemplo, os originais "queimadores", onde presumivelmente se manteria o fogo gentilicio, cujas paredes são decoradas mediante círculos e triângulos caiados que recordam a arte céltica "continental" própria da Europa central, quando filtrado das primitivas influências heleno-grecas. Para além disso, o contexto em que estas peças foram achadas ou encontradas, santuários como o de Garvão (Ourique e Beja) entre outros, oferecem-nos um apontamento sobre a ideologia dos célticos, pois formam parte de um conjunto de peças postas ao serviço de um ritual comunitário ofertado a certa divindade celta desconhecida por nós, que poderá ter sido Ategina.

No santuário de Garvão, contida dentro de uma cesta de pedra sob o solo, apareceu a cabeça de uma mulher, assim como a acha de pedra com que foi seccionada, num típico ritual fundacional de um espaço sagrado celta, enquanto que no santuário de Capote (Higuera la Real, Badajoz), ubicado justamente no centro do castro, o depósito votivo se encontra no altar e os sacrificios realizados sobre uma boa vintena de mamíferos. Quinze assentos em torno do mesmo, eram reservados para aqueles que a cerimónia previamente já estabelecera, e mais material diverso, entre os quais se encontravam uns trezentos jogos de tijelas e de taças, para além de trinta dos referidos "queimadores", todos dão conta de um rito sacrificial e do posterior banquete comunitário, tradicional ceremónia celta de solidariedade e de coesão social.

Os cultos funerários dos célticos deveriam ter sido de forma geral, contrários ao enterramento dos restos, optando assim por uma melhor exposição dos cadáveres aos elementos naturais ou por vertê-lo nas águas, já que só assim se explica a aparição de só dez necrópolis, face às mais de cem povoações recenseadas no território, em que supostamente só uma minoria de sujeitos estranhos ou estrangeiros receberiam sepúlturas de acordo com os diferentes usos e os costumes existentes nos territórios dos célticos.

 

(brevemente desenvolveremos um trabalho sobre os Saefi)

Os Saefes do Litoral Lusitano

Os Saefi deveriam ter sido os primeiros povos celtas a estabelecerem-se no litoral atlântico dos territórios da Lusitânia e da Calécia, no século XI a.C. Submeterão os Oestrymnios mais a sul, mas nunca terão conseguido conquistar o interior da Lusitânia habitado desde há muito por povos de origem ibérico-mediterrânica. Estes povos Sefes terão-se destacado pela religião, o culto das serpentes, pela organização política e pelas relações marítimas com a Bretanha e a Britânia (Inglaterra). Mais tarde nos séculos V e IV a.C. terão sido absorvidos por outro povo celta, os turdulos. Os Turduli eram originalmente um povo ibérico (turdetani) que mais tarde teriam sido influenciados pelas últimas invasões celtas da península Ibérica.