
A Cultura dos Povos Celtas
Os Celtas foram provavelmente o povo mais notável não só do lado norte dos Alpes como também de toda a Europa antes do primeiro milénio antes de Cristo. Já dentro do primeiro milénio os povos e tribos Celtas actuam sobre o cenário europeu e põem por momentos em apuros o mundo clássico - para cair depois nas garras dos romanos e germanos - perdendo finalmente a sua independência, desaparecendo politicamente do cenário europeu como povo e misturando-se com outros povos.
Os arqueólogos falam dos últimos 500 anos A.C. como do período da idade do ferro dando-lhe o nome de Cultura de Latene (La Tène, a civilização dessa época antiga) por causa de um grande achado na margem norte do lago de Novoburgo (Neuenburg, na Suiça). A cultura de Latene é muito mais unitária do que a Cultura dos Campos de Urnas, por exemplo. Assim o revela a disposição das tumbas: o estilo ornamental da Cultura de Hallstatt (nome de uma cidade ausríaca no alto Danúbio) modificou-se, tornou-se mais pesado. Os colares e braceletes de lâminas de ouro cinzelado foram substituídos por peças coladas. Certos tipos de colares pesados, duma só peça, convertem-se no distintivo típico do povo Celta.
Os esquemas ornamentais geométricos traçados a compasso, dão lugar a adornos com temas vegetais e a rostos grotescos. Achamo-nos perante uma união de animal e homem. A fantasia dos artesãos celtas inclui formas e figuras totalmente novas. A baixela de Latene é já mais fina, trabalhada a torno; é de origem meridional. As suas excursões territoriais de todo o tipo, comerciais, os saques, migrações, revelaram aos imaginativos celtas novas possibilidades, proporcionando-lhes um número sem fim de estímulos. O que lhes chama a atenção apropriam-no culturalmente. Conhecem a arte grega, etrusca, essita e também a dos nómadas asiáticos. São celtas o primeiro povo ultra-alpini que cunha moedas. Imitam o dinheiro dos reis da Macedónia e cunham em ouro os famosos pratos arco-íris.
Os Celtas tratam-se sem dúvida de um povo de mais dotes artísticos que políticos, uma vez que não tentou desenvolver nenhuma comunidade centralizada ou a nível estatal. Os Celtas antigos foram uma nação vasta, mas mais do que incapazes de constituir um estado, eles prezavam muito a independência individual e de cada comunidade. Confiaram na capacidade de resistência das suas "oppida", cidades fortificadas das quais devem ter existido muitas centenas. A "oppidum" dos Celtas era simultaneamente um centro administrativo, mercantil, cultural e "político". O "Murus Gallicus", uma muralha de pranchas e blocos de pedra, rodeava uma grande superfície não só de edifícios, mas também de campos de cultura e pastos. Dentro dele podia-se resistir, caso fosse necessário, durante muito tempo sem receber abastecimentos de fora.
Na altura em que os antigos Celtas se viram forçados a construir maciças muralhas anelares, removeram gigantescos pedregulhos do "Anel de Otzenhansen" (perto de Treveris), rodeado hoje por um espesso bosque. Podem-se apreciar, todavia, o muro anterior e a fortaleza principal. A altura era à época de mais de 10 metros. Em toda a pré-história "alemã" não há nenhum monumento mais importante que este, por exemplo. Uma estimativa da quantidade de pedra necessária para a construção desta muralha calcula um quarto de milhão de metros cúbicos, o que compara a obra dos celtas às dimensões das pirâmides. Ignoramos hoje o que existia dentro deste anel colossal, se era uma zona de protecção (de quase 20 hectares), se um lugar de culto, ou uma residência ou algo que se assemelhasse a uma cidade.
Em contrapartida, as denominadas "fortificações rectangulares" não eram, segundo recentes investigações, nem castelos de refúgio nem currais para rebanhos. Tratava-se provavelmente, segundo estudos de Klaus Schwarz em Holzhausen (ao sul de Munique), de santuários, com poços fundos onde se ofereciam grandes sacrifícios.
